A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud no final do século XIX, é uma abordagem única no campo da psicologia, focada na compreensão das dinâmicas inconscientes que influenciam o comportamento humano. O psicanalista desempenha um papel crucial nesse processo, utilizando técnicas específicas para explorar o inconsciente do indivíduo. Uma parte fundamental desse processo é a realização de entrevistas preliminares, que desempenham diversas funções na estrutura da psicanálise.

A análise é um processo terapêutico capaz de produzir efeitos na diminuição e até desaparecimento do sofrimento do indivíduo levando a uma melhora nas posições subjetivas e objetivas do analisando, porém, não se pode dizer que a “cura” seja um conceito psicanalítico, nem tão pouco o alvo. Para Freud há o conceito de “reorganização do Eu”, sendo a “cura” um processo de produção de um ser psíquico novo.

Segundo J.D Nasio existem 4 fases do tratamento psicanalítico, sendo: 

retificação subjetiva,

sugestão (início da análise)

neurose de transferência

interpretação (fase final)

Na fase inicial, da retificação subjetiva, que é realizada durante as entrevistas preliminares, a intervenção do analista se dá no nível da relação do Eu do sujeito com seus sintomas. É nesta etapa que se faz o discernimento do motivo da consulta, ou seja, a razão pela qual o paciente decidiu recorrer a um psicanalista e muitas vezes é necessário se distinguir o motivo da demanda implícita. E também é importante fazer uma devolução da primeira impressão e os riscos implicados no decorrer do trabalho psicanalítico.

Ainda na fase de retificação subjetiva, o trabalho do analista, nas primeiras sessões, pode modificar a maneira que o analisando tem de interpretar o seu sofrimento, experimentá-lo e vivê-lo e, assim, partir à procura do sujeito do inconsciente. Em termos freudianos: o que faz fracassar o recalque e surgir o retorno do recalcado para que fosse constituído o sintoma?

Nesta fase se faz uma avaliação da analisabilidade da questão, lembrando que a analisabilidade é observada em função do sintoma e não do sujeito. A demanda da análise, segundo Antonio Quinet, é correlata à elaboração do sintoma enquanto “sintoma analítico”. E para J.D. Nasio nem todo o paciente que nos consulta é analisável.

Segundo Antonio Quinet, uma das funções das entrevistas preliminares é definir a direção da análise, detectando a estrutura clínica do sujeito – neurose (sintoma), perversão (fetiche) ou psicose (alucinação), bem como seu tipo clínico – histeria ou obsessão – a fim de possibilitar ao analista estabelecer uma estratégia de direção da análise para que não fique “desgovernada”.

Ele também define três funções das entrevistas preliminares:

A função sintomal (sinto-mal): sendo que a demanda verdadeira para se dar início à análise é a de se desvencilhar de um sintoma.

A função diagnóstica: que tem sentido para servir de orientação na condução da análise.

A função transferencial:  o estabelecimento da transferência é necessário para que uma análise de inicie.

Para  Antonio Quinet, no momento das entrevistas preliminares já se pode observar o estabelecimento da transferência, que ele chama de função transferencial das entrevistas preliminares, sendo que este é o ponto que determina a possibilidade do trabalho psicanalítico, uma vez que a diferença entre psicoterapia e psicanálise, é justamente o processo transferencial, a transferência analítica. Ao contrário de outras abordagens terapêuticas, a psicanálise concentra-se na exploração dos processos mentais inconscientes, buscando identificar padrões recorrentes, conflitos e defesas psíquicas que moldam o comportamento do indivíduo.

As entrevistas preliminares desempenham um papel crucial no início do processo terapêutico. Essas sessões iniciais proporcionam ao psicanalista a oportunidade de estabelecer uma relação de confiança com o paciente, essencial para o sucesso do tratamento. Durante esse estágio, o psicanalista busca coletar informações sobre a história de vida do paciente, seus relacionamentos, traumas passados e dinâmicas familiares. Esses dados fornecem uma base para a compreensão do contexto psicológico do indivíduo e ajudam a orientar o direcionamento futuro do tratamento.

Além disso, nas entrevistas preliminares pode-se explorar a resistência do paciente ao processo terapêutico que vai se apresentar mais nitidamente durante a terceira fase, quando ocorre a neurose de transferência. Para Freud: “quanto mais nos aproximamos do núcleo patógeno, mais forte é a resistência.” Ao identificar e compreender essas resistências, o psicanalista pode ajustar sua abordagem, adaptando-se às necessidades específicas do paciente e promovendo um ambiente terapêutico mais produtivo.

Outro aspecto crucial das entrevistas preliminares é a formulação de um contrato terapêutico claro. O psicanalista e o paciente colaboram para estabelecer metas, limites e expectativas para o tratamento. Esse contrato fornece uma estrutura que ajuda a orientar o trabalho futuro, garantindo uma compreensão mútua das responsabilidades de ambas as partes.

Em resumo, o trabalho de um psicanalista é intrincado e envolve uma combinação única de teoria, técnica, prática e empatia. As entrevistas preliminares desempenham um papel essencial nesse processo, estabelecendo as bases para uma relação terapêutica sólida, explorando a resistência do paciente e estabelecendo um contrato terapêutico claro. Ao fazê-lo, o psicanalista cria um espaço propício para a exploração e compreensão das dinâmicas psíquicas inconscientes, buscando promover, segundo Freud, a elaboração de um ser psíquico novo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

×