Acredito que esta seja uma tarefa hercúlea e carregada de incertezas da minha parte quanto à forma “clara e distinta” para definição do inconsciente, mas farei o meu máximo para expor assertivamente a minha compreensão sobre a temática chave da teoria psicanalítica.

A primeira tópica Freudiana é a concepção do aparelho psíquico em três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Na segunda tópica, a partir de 1923, Freud postula o Modelo Estrutural ou Dinâmico, dividindo a mente em três instâncias psíquicas: o Isso, o Eu e o Supereu.

Freud foi quem conseguiu definir o inconsciente como uma maneira para explicar a subjetividade do ser humano, tratando-o como uma instância psíquica e não apenas como um adjetivo para aquilo que não é consciente.

O conceito de inconsciente refere-se a uma instância psíquica que contém representações, desejos e pulsões que estão fora da consciência imediata, mas que ainda assim influenciam o comportamento e os sentimentos de um indivíduo. Esses conteúdos inconscientes são geralmente inacessíveis à consciência normal, mas podem emergir de várias maneiras, como sonhos, lapsos de memória, atos falhos e sintomas neuróticos. Isso que escapa do Ics se revela como manifestações distorcidas e deturpadas ao conteúdo original por ação do recalcamento, que tem a função de proteger o PCs/Cs das representações ligadas às pulsões pertencentes ao ICs.

No inconsciente não há julgamentos, não há negação, ele é atemporal e o seu conteúdo não sofre ação de desgaste causado pela passagem do tempo, como é estabelecido pelo consciente e seu núcleo consiste em representações pulsionais que procuram descarregar sua catexia, ou seja, impulsos carregados de desejo. Desejos esses que não são “suportáveis” ao consciente por conta da censura existente na fronteira do PCs/Cs.

O inconsciente não é exatamente um lugar anatomicamente definido, mas sim uma forma de operação pré-determinada com uma sintaxe própria e que segundo Lacan,  é estruturado como uma linguagem. Nele o que se observa não são coisas, mas sim, representações, ideias como um representante ideativo, uma determinada energia psíquica. O inconsciente é uma forma, e não um lugar ou uma coisa, segundo Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Freud postula que processos e conteúdos psíquicos que não tem acesso facilitado ao consciente, e que, por sua relevância na apresentação de determinados sintomas, devem ser conjecturados,  analisados e “traduzidos” para uma expressão consciente, são chamados de inconsciente.

Vale ressaltar que o conteúdo das três classes do processo psíquico: conscientes, pré-conscientes e inconscientes não são absolutas, tão pouco permanentes. O inconsciente pode se tornar consciente ao superar as fortes resistências. O que é pré-consciente se torna consciente ou pode se tornar momentaneamente inacessível, como é o caso do esquecimento, ou ainda pode temporariamente retornar ao estado inconsciente, que é a condição para os chistes.

O que Freud chama de “retrotransformação”, que é o fenômeno em que conteúdos ou processos pré-conscientes se transformam em inconscientes, desempenha um importante papel nas causas dos distúrbios neuróticos.

Segundo Freud, originalmente tudo era Isso, tendo como qualidade dominante o inconsciente, e o Eu se desenvolveu a partir do Isso por conta da influência contínua do mundo externo.

Os processos no inconsciente ou no Isso obedecem a leis diferentes das leis que conduzem os processos do Eu pré-consciente. Ao conjunto dessas leis no inconsciente Freud chamou de processo primário e de processo secundário às leis que regulam os processos pré-conscientes.

O processo primário no ICs é caracterizado por dois fenômenos: o deslocamento e a condensação. No deslocamento há uma associação de ideias como uma cadeia representativa e na condensação são várias ideias juntas numa única representação.

Importante ressaltar que o material recalcado no ICs só se torna consciente se houver algum conteúdo no Cs que se vincule à ele, que funcione como um gatilho para exposição do conteúdo inconsciente. E os produtos do ICs que chegam à Cs podem sofrer uma nova ação do recalcamento, que faz com que esse conteúdo retorne ao ICs e a este processo dá-se o nome de recalque secundário.

Na relação, por vezes involuntária, com o material psíquico recalcado reside o valor para a técnica psicanalítica. Através das práticas psicanalíticas que possam levar das ocorrências ao recalcado, das deformações ao deformado está a possibilidade de tornar acessível à consciência o que antes era inconsciente na vida anímica na tentativa de preencher as lacunas da memória e assim, mesmo que de forma incompleta, alcançar uma melhora significativa do estado psíquico da pessoa.

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